Susan J. Fowler, que era engenheira de software na Uber, fez um relato bem detalhado das situações de machismo e assédio sexual que aconteceram com ela e outras mulheres que trabalham na sede da Uber. E tudo começou de uma forma que seria impossível ser mais explícito.
“Depois de algumas semanas de treinamento, escolhi entrar no time da minha área de especialidade, e foi aí que as coisas começaram a ficar estranhas. No primeiro dia, meu novo gerente me mandou algumas mensagens no chat da empresa. Ele tinha um relacionamento aberto e sua namorada tinha facilidade em encontrar parceiro, mas ele não. Ele estava tentando ficar longe de problemas no trabalho, mas não podia evitar, porque estava procurando mulheres para ter relações sexuais. Era óbvio que ele estava tentando fazer com que eu fizesse sexo com ele, mas eu cortei a conversa imediatamente e mandei ‘prints’ para o departamento de Recursos Humanos (RH).”
Susan esperava que a Uber, sendo uma empresa de porte razoável, fosse resolver a situação. Mas o que aconteceu foi que eles disseram que como era a primeira denúncia contra ele, eles não se sentiam confortáveis em fazer nada além de dar uma advertência e ter uma conversa ‘sincera’ com ele.
Foram dadas duas opções a ela: ou procurar outro setor e nunca mais precisar interagir com seu antigo chefe, ou continuar no setor, mas se ele desse uma avaliação negativa dela, não seria considerada retaliação porque foram dadas opções a ela. Sair do setor não era exatamente interessante, já que ele estava trabalhando exatamente na sua área de especialidade, mas ela resolveu sair assim mesmo.
Nos meses seguintes ela conheceu várias mulheres na empresa, e ficou surpresa por ouvir várias histórias similares às dela. Inclusive com exatamente o mesmo gerente que ela reportou ao RH! Então a história de que era a primeira denúncia contra ele não era verdade.
Algum tempo depois Susan decidiu pedir transferência para outro setor, e apesar de ter uma avaliação perfeita dos seus superiores, teve sua solicitação recusada. O principal critério de transferência era justamente a avaliação dos superiores diretos.
No dia a dia várias situações machistas aconteciam com muita frequência, e a cereja do bolo foi a história das jaquetas de couro. A empresa iria presentear os funcionários com jaquetas de couro, mas as mulheres receberam uma aviso de que elas não iriam receber o presente, porque como eram poucas mulheres, a empresa não tinha conseguido o mesmo desconto que conseguiu para jaquetas masculinas.
Susan acabou saindo da empresa pouco tempo depois. Quando ela entrou na empresa, 25% dos engenheiros eram mulheres. Quando saiu eram apenas 3%.
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